terça-feira, 8 de maio de 2012

Para Hannah...

"Recordar, do latim "Recordis" - voltar a passar pelo coração..."


Vô...
"E com seus acordes eu corro pra te acompanhar.
Conversamos com os dedos, e você repete pra mim uma música que não esqueço nunca.
E tudo começa com a sua risada, e termina na minha memória.
E no meu desajeitado acompanhar, vou atrás da sua arte, nossos dedilhados são nossas palavras. Nossos violões conversam por nós;

E acho que você nem sabe. Mas você disse, e ainda diz muito; E fica;

E um dia, eu ainda vou te imitar, pra contar e cantar teu violão Vô.
Pra contar pros meus netos, como a gente deu de conversar mesmo depois que você já tinha ido.


Que saudade."

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Apegar-se...
"Nos apegamos, uns aos outros, e nos apegamos pra depois desapegar.
É estar junto, pr'aprender a deixar a ir.
Viver um tempo junto e depois... não.
E a gente de um jeito ou de outro, acaba sentindo falta... perdemos uns pedaços...

Passam, mas também a fazer parte de nós.
E assim nos recompletamos

e indo acabaram ficando. 
E nos fazemos, em mãos dadas que se dão e que se separam.

Nos sorrisos e abraços que não sendo, são.
Díficil dialética da vida...
Aprender desaprendendo,

Vivendo a morrer.... "


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Pra você...


Um Abraço atemporal,

Thiago



segunda-feira, 7 de maio de 2012

O TEMPO PAROU

Parece que o tempo parou. O coração passa a doer. A mente congela o presente e começa a passar filmes que antes tinham teias pelo desuso. Agora não... Ele está novo e é usado rotineiramente. E aquele mesmo filme que não causava reação faz com que um oceano escorra defeituosamente. Agora tudo é defeito... Defeito do mar, defeito da mente, defeito do coração, defeito da vida. É uma crueldade, talvez se possa pensar assim, é uma crueldade ter que lidar com o inexistênte. Uma crueldade ter que se tornar capaz de lidar com a dor e a perda. É uma crueldade ter que sentir um vazio imenso. É uma crueldade ter uma rotina em meio de mares. A mente congela e depois retrocede. Parece então que tudo está contra os seus sentimentos. Parece também que o mundo resolveu girar de uma forma em que você sempre vai andar num outro sentido. O coração não para de doer. A sua dor parece tomar dimensões continentais. Você não pode mais ter. Você não pode ter. Você não mais vai ter. Os filmes continuam. Por mais que você tenha os visto por dezenas de vezes, eles parecem prolongar cada vez mais e sempre trazerem cenas inéditas, mal revisadas e difíceis. Difíceis talvez pelo seu teor de delicadeza e de dor. Dor que só tende a aumentar e aumenta tanto que você já não entende mais nada. E o nada é tanto... E agora tudo que você queria é aquilo que você não pode. Triste. Desconfortavel. Doloroso. Você respira profundamente e se acalma. Já está com os olhos vermelhos, os braços cruzados e os lábios pressionados. Não, esse último não é conformidade. Você simplesmente aceita por que não existe uma segunda opção, uma outra alternativa, um outro caminho. Dai então, extremamente cansado você se deita na cama com os cabelos molhados em cima do travesseiro, coisa que normalmente você não faria. Você fecha os olhos bem devagar, delicadamente, pedindo por tudo que surgisse algum pensamento menos triste que lhe viesse a mente. As ondas do oceano vão se quebrando cada vez mais lentamente, a respiração vai ficando menos ofegante e o frio toma conta do seu corpo. Você dorme como num passe de mágica. Parece até uma brincadeira de mal gosto, a pouco seu coração queria parar e agora você já pega no sono com facilidade. Essa brincadeira era de fato de mal gosto. Você sonha com a sua perda, você sonha com os seus filmes, você sonha com aquilo que por muito tempo te fez sorrir. E inconscientemente você sorri. E com ainda um sorriso no rosto, mesmo que singelo, você leva sua mão no peito. O coração ainda dói. A mente congela. Você continua a assistir os mesmos filmes. Um novo oceano passa fazendo uma nova rota e parece que o tempo parou.

Hannah Azu (Abram)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Dizeres...

(ou a Celebração da Sinestesia)


"Coração do Outro é terra de ninguem"

Palavras ditas produzem,
os mundos sobre os quais dizemos...

Dizem mais respeito a nós - dizentes,
do que àqueles sobre quem falamos...
Ouvimos pouco... Cheiramos menos ainda,
Ainda nos tocamos...

Saber ver é ouvir
e escutar com os olhos.
Não deixar a boca surda, solta.
Gritar bem alto com os ouvidos,
Cheirar com todas as peles,
Esbarrar, e nem saber bem onde, ou quando...


Sentir e só...
                                  
                           [Com o corpo inteiro]


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quinta-feira, 22 de março de 2012

A Garota que Esperou

Ilustração: Joana Fraga/Satine Black
Baseado na série inglesa "Doctor Who"

(Clique para ampliar)

sábado, 17 de março de 2012

Para jantar com os monstros...

Selo uma carta para cada um deles, um convite formal, enviado para os quatro cantos.
O jantar seria dado em minha casa, com toda pompa que poderia reservar a estes ilustres convidados. Serviria a eles muito bem passados , ou mal passados, a depender do gosto de cada um.
O primeiro a chegar, seria uma criança de oito anos, cabelo cortado em cuia, chorosa, com olhos muito avermelhados, estaria usando uma camisa um pouco curta, para dentro de uma bermuda também não muito grande, deixando exposta as varias feridas na perna, feridas que eventualmente ele insistiria em coçar, em comer seus pedaços e beber de seu sangue, apesar de todas as iguarias à mesa, eu tremeria diante de sua presença.
Os segundos a chegar seriam meu pai e minha mãe, feridos, andariam mancos pela casa, observando e criticando cada móvel, lançando olhares para mim, brigariam antes da janta começar, apesar dos lugares separados que eu havia deixado para eles na mesa.
Os terceiros também viram juntos, meus irmãos, de mãos dadas, ririam para mim, com suas roupas manchadas com respingos de sangue, incautamente causados quando deixarei um pouco dos mal passados cairem no prato, apesar de todo cuidado e alegria de servi-los. Eles ririam do sangue, sentariam entre meu pai e minha mãe, seus olhos, seriam os meus olhos.
E em meio ao jantar, eu iniciaria um longo discurso, sobre o motivo pelo qual os havia reunido ali, jantaríamos todos os pedaços de nossos passados, pedaços de mim passados. E nunca havia me passado pela cabeça o quanto seria um jantar antropofágico.
Minha barba estaria toda vermelha, meu rosto lambuzado, minhas vestes sujas. Eu desabaria - desabo - a chorar diante deles, dos convidados, que se transformavam em cada pessoa que eu conheço, que se transformariam inclusive nas pessoas que ainda não conheci. E eu me levantaria assustado, em outra crise de ansiedade, vomitaria-me diante deles, maus pedaços de mim, e os olharia com olhos de culpa, meus dentes seriam serrilhados, minhas unhas longas demais. Todos eles se deformariam diante de minhas deformidades, se formariam.
De frente para mim mesmo...
Jantava a frente de um espelho, o prato, estava vazio, a muito , passado.
E meu convidado, ali refletido, me olharia com espanto, assim como eu...



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quinta-feira, 8 de março de 2012

Cristas e Vales

Cristas e vales


G.S.



Quando cheguei ao topo, me esqueci

que a bonança antecede a tempestade

e a decadência atinge a majestade

que todo homem vivo projeta em si.



Mas nem por isso cessou a vontade

de poder dizer pela eternidade

que no topo me restabeleci

e que, dessa vez, na vida venci.



Mas também supunha o ingênuo zigoto

ser eterno o conforto e absoluta

verdade a vitória espermatozoide



Só não contava esse ser ignoto

com ter de encarar incessante luta

do parto à morte, na vida-senoide.

sábado, 3 de março de 2012

Esquecer...

Há no esquecimento uma sombra
Da Morte que me amedronta...

Essa Ausência que se desfaz de sentido,
Ausência que me desfaz inteiro.
Ausência que te esquece a cada dia.
medo definitivo do silêncio...

Assim, insisto em lembrar,

Por ter medo de morrer,
Por ter medo de calar...
[ mas já não vivemos não é?]




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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cartas Inacabadas

Ilustração: Joana Fraga/Satine Black
Baseado no texto "Cartas Inacabadas", por Thiago Oshiro

(Clique para ampliar)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Grande Amor

(Hannah Abram)

Nunca deixarei de amar como te amei um dia
E a mesma água nunca é eternamente quente, ela esfria
Por melhor que eu seja, por mais que eu esqueça,
Tudo muda, nada é nada, nesse mundo tão mutante

Alegria é esquecer por um instante
Que o tempo corre
E o que me socorre é estar ao teu lado
O que faz todos meus sentimentos misturados
Crescerem do meu jeito, ao teu agrado

Que aquela simples palavra que eu mencionei um dia
sirva de lição a todos, e mostre o que meu coração podia
E nesta ocasião que me encontro
Jogo à mesa todos os pontos
Trago a vocês os benefícios do amor

E com a graça e com a dedicação que vos digo
Que mesmo com todos os defeitos que me traz
Eu te aceito, como nunca, e jamais
Irei deixar-te, abandonar-te, estarás sempre comigo
Eu prometo


Essa poesia foi feita como um presente de aniversário de casamento em 2009 para meus avós, hoje falecidos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Mundo pelos olhos de alguém que queria poder quebrar copos.

De vez em quando, eu me surpreendo com umas vontades estranhas. Tipo me jogar numa escada e descer rolando. Ou aquele desejo ~quase~ incontrolável que tenho de jogar copos de vidro no chão. Antes, eu não sabia de onde esse tipo de vontade vinha - cheguei até a cogitar minha própria insanidade, mas recentemente tive uma epifania - um momento de ideias iluminadas que deixou claro o meu ponto de vista sobre a Vida, o Universo e  Tudo Mais. Eu finalmente descobri um dos grandes motivos para estar insatisfeita com a Realidade.

Pra começar, a carência de efeitos visuais impactantes - veja bem, os gráficos da vida são ótimos, temos diversas paisagens e poucas coisas são tão belas quanto a luz do Sol sendo refletida no oceano numa colorida manhã de verão. No entanto, o cotidiano não explora a diversidade de cores e luzes disponíveis no Universo! É frustrante descer uma escada imaginando que vários cacos de vidro estão voando à sua volta, refletindo e refratando a luz, para depois abrir os olhos e ver só... PAREDES BRANCAS! Nada contra quem gosta do minimalismo e da sua moda all-white na pegada Apple - só que eu enjoei.

Onde estão as bolhas de sabão nos momentos felizes e/ou românticos? Cadê as flores desabrochando e as pétalas de rosas voando em volta das pessoas extremamente bonitas? Cadê os cabelos esvoaçantes dos comerciais de shampoo e as menininhas de vestidinhos floridos com fitas no cabelo e sentadas em balanços aproveitando uma brisa primaveril? Sangue jorrando em momentos tensos também é uma boa...

E não é só a falta de efeitos visuais que me incomoda. As trilhas sonoras inconvenientes desse mundo, nossa! Você está passando por um momento dramático da sua vida e seu vizinho está cantando Michel Teló no chuveiro. Você alcança algo que quer muito e não tem nenhuma música estimulante ao fundo que exale a sensação de *achievement unlocked*. Você acorda numa manhã de segunda e o mundo não transmite pra você as vibrações de *new quest ahead*.

O que nos resta então? A mim, só a minha imaginação - não sei você, mas pra mim drogas não são uma opção. Então eu me enterro dentro da minha própria cabeça, no meu mundinho de purpurina, e vivo a vida como se ela fosse essa Coca-Cola toda que eu queria que ela fosse (apesar de não gostar muito de Coca-Cola como muitos, ainda acho uma expressão idiomática divertida e válida).

E ninguém pode me culpar por gostar de glitter. Existe algo mais bonito que a luz sendo repetidamente refletida e refratada em pequenos pedaços cintilantes e coloridos de algo que te lembra fadas e unicórnios e açúcar? É, nada.