quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Sol.

A luz morna do sol poente aquecia a cidade de Tóquio. Não que isso fizesse alguma diferença para ela. A suave brisa do fim do dia, o silêncio dos momentos que antecediam a hora do rush e o início da vida noturna do grande formigueiro urbano, nada disso poderia confortar o seu coração.

Tudo o que ela sentia era uma calma e silenciosa dor. Sem histeria. Sem desespero. Ela simplesmente sentia o seu mundo se despedaçando enquanto ela observava o sol se pôr e constatava: 'dói'. O que doía? Seus olhos, de tanto chorar? Sua garganta, por engolir os soluços e forçá-la a sofrer em silêncio? Seu... seu... algo dentro de si que se quebrava em fissões infinitas e sequenciadas?

Ela mantinha a sua postura enquanto assistia à mudança de paisagens pela janela do trem. O que mais desejava era ter os braços dele à sua volta, enquanto se encolhia e dava vazão à dor. Ela sabia que isso era impossível, e por isso não se dava ao trabalho de envolver seus braços em torno de si mesma, fechar os olhos e imaginar que estava nos braços dele, como fazia nas noites em que ele a deixava sozinha. Ela não conseguia se iludir com isso, não sabendo que ele estava morto.

Há alguns meses, ela lembraria de sentir uma solidão parecida, quando estava sozinha em seu apartamento, escrevendo infinitamente num caderno sem se deixar afetar pelas lágrimas que insistiam em cair de seus olhos. Nessa época, ela engolia os soluços e se perguntava por que ele não estava lá com ela, por que ele não a confortava. No entanto, essas memórias foram apagadas, e tudo o que ela via no momento era um mundo vazio e silencioso, um mundo sem ele.

Se ao menos eles tivessem tido um filho! Ela teria forças para continuar, sabendo que um pedacinho dele, um pedacinho dos dois, permanecia nesse mundo. Talvez tivesse os olhos do pai, ou então o mesmo sorriso. Talvez, quando crescesse, tivesse a mesma postura séria quando estava sendo observado, mas deixasse os ombros caírem de cansaço ao se ver sozinho... ou exalasse toda aquela aura austera que ele tinha, e que a fazia gravitar em torno dele, esperando poder ajudar e, mesmo que fosse por um segundo, aliviar o peso sobre as costas dele, ajudar a carregar seus fardos.

Ele se fora, sem deixar nada para trás que a trouxesse conforto. Deixara sim o apartamento em seu nome e uma herança generosa, mas nada disso aplacava a falta que sentia dele.

Ela seguiu viagem. Prometera, quando jurou seu amor a ele, que o seguiria por onde fosse, sem questionar. Sabia que, caso se perdesse em seu caminho, ele a conduziria e a faria encontrar a luz novamente. Mas ele não estava mais lá para conduzi-la. O único caminho que restava a ser seguido era o pulo para a sua última chance de paz.

Na beira do terraço de um dos arranha-céus de Tóquio, ela fechou os olhos. O peso da sua aliança, pendurada numa corrente em seu pescoço, pareceu conduzi-la para o fim. O seu último pensamento foi um calmo 'será que vai doer?'. Mas o seu coração se tranquilizou. Nada poderia ser mais doloroso que continuar vivendo sem ele. Ela esperava encontrá-lo, e os olhos dele acenderiam a luz que faltava no mundo que ela estava deixando. Era ele quem ela esperava encontrar. Luz. Ele foi o Sol dela, mas a noite infinita chegou.





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Baseado no último episódio do anime Death Note, quem viu vai entender o porquê.

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