terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Março Negro

Não deu nem um mês de suspensão do SOPA/PIPA, e já vem um tal de ACTA (espécie de SOPA, mas MUNDIAL) tirar minha paciência. Como aspirante a artista, esses tipos de projetos de lei, que dizem proteger os direitos autorais do artista, me revoltam profundamente. PRIMEIRO: a maior porcentagem dos ganhos vai para a empresa responsável pelo artista. SEGUNDO: censurando a internet, quem vai ter mais perdas será o próprio dito cujo, que terá menos divulgação rápida e gratuita, dependendo ainda mais das malditas companhias. Ou seja: eles ganham mais dinheiro, nós ficamos sem filmes (porque, cá entre nós, esses DVDs/CDs não tem preços justos) e os artistas ficam com menos visibilidade. Os cantores amadores não podem mais cantar Lady Gaga/Justin Biba/Beyoncé/etc. Os ilustradores não podem mais fazer fanarts/tributos aos personagens que eles gostam. EU não poderei mais fazer fanart. VOCÊ não poderá mais assistir filmes/séries se não as lançadas oficialmente aqui no Brasil, que custam 21891974981278937493 reais POR DVD. Como alguém que quer entrar no ramo do entreternimento (música, quadrinhos, desenhos, livros), me revolta que os velhinhos presidentes dessas empresas tenham essa mente tão fechada e tão cruel. Se você concorda pelo menos um pouquinho, ou se importa com nós, artistas/aspirantes a artistas/pessoas que gostam de se expressar, divulgue. Façamos que nem Gandhi (wadeshi - o boicote a todos os produtos importados, especialmente os produzidos na Inglaterra. Aliada a esta estratégia estava sua proposta de que todos os indianos deveriam vestir o khadi - vestimentas caseiras - ao invés de comprar os produtos têxteis britânicos, com o intuito de conseguir a independência da Índia), um protesto pacífico: Março Negro.

Ilustração: Satine Black/Joana (Visitem minha galeria! URL na ilustração)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Meu ar é saudade...

"Na memória, sublimada das mais diferentes formas, existe algo que se parece à esperança."

"É existe, sempre existe.
Não há em mim Amar que não esperance.
Nem esperança que não esteja encantada por Amares...
Não há esperança que não deixe a porta aberta...
E não anseie por retorno.
Nesses meus Amares que presentificam ausências,

Não há ausência que não seja presente num suspiro de Saudade...

Não há nada que não seja uma forma disfarçada de suspiro.”


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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sherlock

Eu não tenho muito o que fazer, isso é fato. Se eu tivesse, talvez não estivesse sentada na recepção de uma faculdade em que eu não estudo só pra observar o movimento das pessoas passando. Tá, não era só por isso. Enquanto eu memorizava a posição de cada uma das rachaduras do pirulito de coração na minha boca, também me concentrava no cara loiro encostado numa parede que eu podia ver através das portas de vidro da recepção.

Eu não sou escrava dos estereótipos de beleza: para que eu me sinta atraída por alguém, a pessoa não tem que parecer necessariamente com um ator qualquer de uma série qualquer que passe em um canal-fechado-de-gente-rica qualquer. Logo, o fato desse cara ser loiro, ter olhos claros e um corpo legal não era um fator determinante para a minha atração. Normalmente. Mas esse cara tinha algo de especial - talvez a cara de tímido, talvez o aparelho fixo nos dentes, ou então a pulseirinha de palha no pulso. Resumindo, pela primeira vez, me atraí por alguém só pela aparência (apesar da cor do cabelo não influenciar muito. Essa homogeneidade de gostos femininos - loiro = gato - nunca fez sentido pra mim, sempre tive o cabelo loiro e nunca me senti mais que uma menina sardenta e orelhuda por causa disso).

O cara loiro desconhecido - o chamarei por enquanto de Sherlock, para evitar repetições - estava esperando sua aula começar. Eu sabia disso porque nos últimos três dias ele subiu as escadas indicadas com uma placa "SALAS DE AULA" assim que o relógio marcou 15:55 - o que eu imagino que seja porque ele leve cerca de cinco minutos para se deslocar até a sala de aula e sentar-se antes que a aula comece. Em dois minutos, sua rotina provavelmente se repetiria. Eu parei de contar as rachaduras do pirulito - por enquanto, doze - e dediquei toda a minha atenção a Sherlock. Em dois minutos ele sairia dali e eu teria tempo pra me concentrar em coisas menos importantes.

Depois de dois minutos, eu direcionei minha atenção a algo que eu descobri não ser menos importante que Sherlock, mas que não necessariamente me trazia muitas alegrias. Numa das últimas folhas do meu caderno, rabisquei um diagrama para analisar a probabilidade de Sherlock estar tão atraído por mim quanto eu estou por ele. Bem. Ele pode ser gay. Ou pode ser hétero mas ter namorada. Ou pode ser hétero e não ser a fim de mim. Ou pode ser a fim de mim - altamente improvável. Ou, ainda, pode simplesmente nunca ter reparado em mim e portanto não ter uma opinião exata - o que, baseando-me em experiências anteriores, tem mais probabilidade de acontecer. Juntei minhas coisas, dei tchauzinho pra moça da recepção (que a essa altura já sacou o que eu vou fazer lá todas as tardes no mesmo horário) e saltitei para casa - porque andar é para os comuns.

Em casa, depois de dar Oi pra papai, tirar o sapato e lavar as mãos duas vezes, encontrei mais uma vez nas redes sociais a Decepção. Dessa vez, não foi nenhum protesto ridículo sobre o chat que parou de funcionar, nem tirinhas do xkcd.com traduzidas e postadas - descaradamente e sem crédito nenhum ao autor original - em perfis de humor. Foi pior. Foi o horror. O HORROR. Na minha página de "Sugestões de amigos", lá estava Sherlock - com seu nome verdadeiro. E uma foto dele, de regatinha, mostrando o "muque" e segurando uma latinha de cerveja.

Ignorei minha ânsia de vômito e tentei saber mais sobre essa criatura que de repente não me pareceu tão atraente. Vamos, Sarah, não julgue as pessoas só pelas aparências, era o que a minha mente me dizia, mas era um comando impossível de ser executado: o perfil dele não estava completamente visível para desconhecidos, me deixando apenas com a sua foto do perfil e as informações "Solteiro" e "Música: Chiclete Com Banana" para traçar um perfil psicológico. Isso não me agradava nem um pouco e eu seria forçada a fazer testes com Sherlock - usar esse nome ao invés do verdadeiro ainda me dava alguma esperança - para descobrir se ele ainda tinha salvação.

No dia seguinte, às 15:50, eu saí do meu lugar de costume, no sofá da recepção da faculdade, e fui até Sherlock. Ele me olhou de forma estranha (não sei se foi a minha camisa com a estampa de um gato morto-vivo ou se ele estava espantado porque estava secretamente apaixonado por mim e não esperava que eu fosse toda linda e glamourosamente andar até ele) e eu tirei da minha bolsa duas unidades do melhor determinante de personalidade já inventado.

"Quer um Nesquik de morango?", eu perguntei enquanto começava a beber o meu.

"Não, valeu, vai que algum conhecido me vê bebendo isso?"

Ele rejeitou o Nesquik. Ele deu um tapa na cara da sociedade dos bebedores de Nesquik e não merecia a minha atenção. A vergonha de segurar uma caixinha de Nesquik em público mostrava que ele era exatamente o tipo de pessoa que eu prefiro evitar: aquele que liga mais para as opiniões dos outros e para o que é mais socialmente aceito e que o caracteriza como "Machão Pegador".

Adeus, Sherlock.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Somos poesias

Crescer é inevitável e amadurecer dá medo. Uma série de fatores são necessários, indo muito além do que apenas responsabilidade. Alguns até confundem, acham que crescer é ficar velho, sério e sem graça. Querem e até espéram tornar-se totalmente razão. Não vão. talvez até fiquem velhos e fechados, achando que são unicamente objetivos. Não há pesquisas que me dêem respostas, nem um grande número de pessoas que me falem que é assim. Somos poesias, é meu simples achismo. O coração acaba tomando conta e sem nem perceber viramos por completo subjetividade. E por quê acho isso? Talvez você se pergunte, mas vou preferir dar exemplos, à talvez, me perder em minhas palavras sentimentais. Já olhou uma foto e lembrou de algum momento que quis voltar? Ou já olhou algum objeto e se perdeu alguns minutos em pensamentos?
Qualquer relação entre pessoas é subjetiva, e por isso, me acho no direito de chamar de poesia. Alguns são como João Cabral de Melo Neto, poesias objetivadas. Outros são como Clarice Lispector com sua prosa intimista. Talvez, na minha tese baseada no achismo, até uns tenham essa inquietude aflorada, mas não afirmo nada. Não afirmo porque não posso saber se tudo isso é universal. Queria poder garantir, mas só acho.
Somos poesia, pois acima de tudo, somos sentimentos, somos movidos à isso. A razão é complicada e trabalhosa, é algo que precisamos nos programar e nos obrigar à isso. Não no sentido literal da palavra, mas não é algo espontâneo como o ato de sentir, totalmente involuntário e sem explicação, você apenas sente, porque sente e é ponto final.
Mesmo sem nem achar, somos, sim, poesia. Somos inquietude, somos dúvidas, somos o não-entendimento. E por não entender a si mesmo, tentamos nos entender no outro, e encontrando ou não, sendo mais uma vez sentimento, temos a ilusão de que sabemos a resposta. E daí vem amor, desilusão, saudade, e muito mais amor. Mas no fundo, sempre sentimento, poesia, subjetividade.

Ps: Se você viu isso escrito pela Anna Paula Buaque, nos reencontramos de novo! Sou Hannah e a Anna Paula

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sol e Lua

Escrito há algum tempo, em momentos de tristeza e reflexão...

~//~


Sol e lua

G.S.


Da máscara alegre atrás

a face da chaga jaz.

Escondo do mundo a dor

e o meu represo rancor.



Só que meus olhos me traem

e as lágrimas sempre caem.

A cera é então decomposta

e à mostra a desgraça é posta.


Mas a desgraça maior

é ver o Sol ao redor

que a todos brilhar parece

enquanto o meu ser perece.


Dizem que a mim vai brilhar

um dia o belo astro rei.

Mas via sombria sei

que minha alma há de trilhar.


Eis que diz alguém na rua:

e diferente podia

ser, quando foge do dia

e se esconde atrás... da Lua?

sábado, 14 de janeiro de 2012

Inquietude...

E quando você menos espera, parece que ela decidiu voltar. Senta-se na berada da cama como se fosse convidada e insinua-se... Em idéias, sentimentos, lugares...

Cada canto de sombra, no coração ou na casa, traz em algum momento distraído do dia a inquietude de sua presença. Já conhecida, como de alguém que vai embora e depois decide voltar, mas que nunca se encaixa, causa qualquer coisa de angustia, de incomodo...

Não sorri, nem chora, não tem raiva ou tristeza, é seca, silenciosa.
Essa presença que atraí medos profundos para a flor de nossa pele, e arrepios pelo corpo todo quando assim, sem querer, esbarra na gente.
Faz florescer pesadelos nos campos dos nossos sonhos,
Porque dela aprendemos a ter medo desde pequeninos...

Medo...
De seu pálido, permanente sorriso de lisos dentes brancos, como toda branca é sua pele, sua cadavérica aparência, sob seu escuro manto com sua velha foice...


Diante de sua presença, eu silencio e espero, espero muito...
“Vá embora!”

[Saia de perto do coração]


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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Sol.

A luz morna do sol poente aquecia a cidade de Tóquio. Não que isso fizesse alguma diferença para ela. A suave brisa do fim do dia, o silêncio dos momentos que antecediam a hora do rush e o início da vida noturna do grande formigueiro urbano, nada disso poderia confortar o seu coração.

Tudo o que ela sentia era uma calma e silenciosa dor. Sem histeria. Sem desespero. Ela simplesmente sentia o seu mundo se despedaçando enquanto ela observava o sol se pôr e constatava: 'dói'. O que doía? Seus olhos, de tanto chorar? Sua garganta, por engolir os soluços e forçá-la a sofrer em silêncio? Seu... seu... algo dentro de si que se quebrava em fissões infinitas e sequenciadas?

Ela mantinha a sua postura enquanto assistia à mudança de paisagens pela janela do trem. O que mais desejava era ter os braços dele à sua volta, enquanto se encolhia e dava vazão à dor. Ela sabia que isso era impossível, e por isso não se dava ao trabalho de envolver seus braços em torno de si mesma, fechar os olhos e imaginar que estava nos braços dele, como fazia nas noites em que ele a deixava sozinha. Ela não conseguia se iludir com isso, não sabendo que ele estava morto.

Há alguns meses, ela lembraria de sentir uma solidão parecida, quando estava sozinha em seu apartamento, escrevendo infinitamente num caderno sem se deixar afetar pelas lágrimas que insistiam em cair de seus olhos. Nessa época, ela engolia os soluços e se perguntava por que ele não estava lá com ela, por que ele não a confortava. No entanto, essas memórias foram apagadas, e tudo o que ela via no momento era um mundo vazio e silencioso, um mundo sem ele.

Se ao menos eles tivessem tido um filho! Ela teria forças para continuar, sabendo que um pedacinho dele, um pedacinho dos dois, permanecia nesse mundo. Talvez tivesse os olhos do pai, ou então o mesmo sorriso. Talvez, quando crescesse, tivesse a mesma postura séria quando estava sendo observado, mas deixasse os ombros caírem de cansaço ao se ver sozinho... ou exalasse toda aquela aura austera que ele tinha, e que a fazia gravitar em torno dele, esperando poder ajudar e, mesmo que fosse por um segundo, aliviar o peso sobre as costas dele, ajudar a carregar seus fardos.

Ele se fora, sem deixar nada para trás que a trouxesse conforto. Deixara sim o apartamento em seu nome e uma herança generosa, mas nada disso aplacava a falta que sentia dele.

Ela seguiu viagem. Prometera, quando jurou seu amor a ele, que o seguiria por onde fosse, sem questionar. Sabia que, caso se perdesse em seu caminho, ele a conduziria e a faria encontrar a luz novamente. Mas ele não estava mais lá para conduzi-la. O único caminho que restava a ser seguido era o pulo para a sua última chance de paz.

Na beira do terraço de um dos arranha-céus de Tóquio, ela fechou os olhos. O peso da sua aliança, pendurada numa corrente em seu pescoço, pareceu conduzi-la para o fim. O seu último pensamento foi um calmo 'será que vai doer?'. Mas o seu coração se tranquilizou. Nada poderia ser mais doloroso que continuar vivendo sem ele. Ela esperava encontrá-lo, e os olhos dele acenderiam a luz que faltava no mundo que ela estava deixando. Era ele quem ela esperava encontrar. Luz. Ele foi o Sol dela, mas a noite infinita chegou.





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Baseado no último episódio do anime Death Note, quem viu vai entender o porquê.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Resenha: ZODÍACO


Sempre fico com um pé atrás quando leio livros baseados em histórias reais. Diferente da ficção, temos consciência de que as situações aconteceram com pessoas como nós, e isso me assusta um pouco. Ok, bastante. Principalmente quando o livro é sobre...serial killers.
O livro ZODÍACO, escrito por Robert Graysmith, traz a história de um dos serial killers mais misteriosos do mundo. Não sabemos seu nome nem sua aparência, mas esse monstro, conhecido como o Assassino Zodíaco, matou 7 pessoas (confirmadas, pois Zodíaco, em uma de suas cartas, afirmou ter matado mais de 30), e deixou a região da Califórnia em pânico, durante as décadas de 60 e 70. O próprio autor do livro, Graysmith, era um cartunista do jornal de San Francisco da época, e acompanhou de perto toda a trajetória desse notório assassino.
O livro conta com depoimentos de policiais, cópias das cartas mandadas por Zodíaco aos jornais (cartas criptografadas, sendo que muitas nunca foram decifradas com sucesso) e algumas impressões do próprio autor. É agonizante ver as maiores forças policiais dos Estados Unidos trabalhando juntas, mas não chegando a lugar algum. Talvez pela falta de tecnologia da época, e pela grande astúcia do assassino, Zodíaco nunca foi encontrado.
ZODÍACO é uma obra intrigante, e definitivamente te dá um enorme tapa na cara, afinal, é a prova de que a justiça nem sempre leva a melhor.

ZODÍACO é um livro lançado pela editora Nova Conceito, escrito por Robert Graysmith.
Ilustração: Joana Fraga (satine-black.deviantart.com)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Resenha: Um Dia





"Um Dia" foi um livro que me surpreendeu. Tudo no livro te faz pensar que seria uma história super clichê, com cenas românticas, enjoadas e draminhas adolescentes. Não é. Um dia é um livro gostoso de ler e bastante reflexivo, que traz questões jovens e adultas sobre a vida.
As personagens Emma e Dexter são também um pouco de cada um de nós com suas dúvidas e angústias. Eles se conhecem no dia 15 de julho de 1988, dia de São Swithin e formatura dos dois e, todo o ano nessa mesma data, eles passam a se encontrar e trazem um pouco do que estão vivendo. Ainda no início do livro, eles fazem uso de frases comumente usadas pelos jovens como "Ainda tenho x anos" e, ao desenrolar da história, a idade deles se torna motivo de desespero. É como na vida: assistindo amigos deslancharem em suas carreiras e construirem suas vidas enquanto as deles vão ficando estagnadas ou de um jeito que não mais trazem felicidade como antes, em 1988.
Emma queria mudar o mundo quando jovem. Dexter queria aproveitar a vida e conhecer outros lugares. E, tristemente, a vida faz com que eles mudem suas visões e se contentem com outras caminhadas.
"Um Dia" traz dramas adultos e questionamentos pertinentes com o que vivemos hoje. Nos perguntamos: Somos a geração que nada faz? E, por causa dessas reflexões, ele deixa de ser um livro de uma sentada só. É um livro para ler e pensar. Com cenas surpreendentes e chocantes, "Um Dia" com certeza se tornou um dos meus favoritos. O desfecho ficou muito bom, realmente para o leitor fechar o livro e ficar mais uns bons minutos pensando: "O que eu quero de verdade? E agora, José?". E a capa está lindíssima (tudo bem que a anterior também estava).

Nota: 8.5


Um dia é um livro lançado pela editora Intríseca e escrito pelo David Nicholls