GS
Maquiagem, lápis de olho, salto alto. Uma de vestido vermelho, um pouco cima do joelho; a outra, com uma mini-saia, combinando com a blusa clara. Assim vestidas, e juntas, as duas "migas" foram passear no shopping. Olharam algumas vitrines, cada uma comprou um frozen yogurt - com menos de 100 calorias, é claro, para não prejudicar todo o esforço da malhação semanal - e então ambas partiram para seu programa predileto no shopping: sentar num local da praça de alimentação, do qual podiam observar, como espectadoras privilegiadas, as mais diversas gentes passarem, e julgar se estas estavam bem-vestidas ou não...
- Essa aí tá bem brega, né, miga? - diz uma das moças
- É, e o vestido dela saiu de linha na última primavera... - replica a outra
- E esse rapaz aí? Muito "assinzinho"...
- Verdade. Tipo assim, falta estilo próprio. Uma camisa xadrez por cima da roupa e um sapatênis ficariam style.
E assim foram passando pessoas, pessoas e mais pessoas... Algumas, obviamente, prestaram atenção nas garotas: um bombadinho, uma moça vestida à moda evangélica, um alternativo de dread, uma jovem com um vestidinho do estilo indiano. Mas um senhor em especial chamou sobremaneira a atenção das moçoilas: ele usava um chapéu estranho, tomava uma xícara de alguma bebida e observava as pessoas, parando casualmente para fazer anotações num caderninho que apoiava na mesa em que estava sentado. Nos primeiros momentos, as jovens o julgaram como apenas mais uma das tantas figuras ridículas existentes no recinto; mas depois ele começou a voltar os olhos com bastante frequência para elas, esboçando um leve sorriso nos lábios umas duas ou três vezes, enquanto fazia mais anotações. Estava relativamente próximo delas, e bem poderia estar escutando-as; e isso as assustou. Teria ele ouvido algo sobre elas? Os nomes? Talvez uma referência sobre onde moravam! E se fosse um tarado? Estaria anotando algo a respeito delas?
Na dúvida, as moças saíram daquele shopping, que estava cada vez pior frequentado. De fato, não era mais um lugar para pessoas de família, como era o caso delas. A despeito do susto, todavia, elas saíram satisfeitas. Quantas pessoas tinham parado para admirá-las, reconhecendo assim sua beleza e elegância! Assim, saíram dali como rainhas.
Mas poderiam elas imaginar o que pensavam aqueles que prestaram atenção nelas? Jamais; mas pelo menos eu - narrador onisciente, acima de tudo e de todos - posso, e desejo, compartilhar com você, mísero leitor, tais informações.
Primeiramente, o bombado. Que, ao se sentir observado, olhou com vaidade para as garotas e pensou, empertigando-se: "as mina pira nos meus muques".
Depois, a crente, que olhou de cima a baixo os trajes mundanos daquelas garotas, desejando que Jesus tocasse o coração daquela gente.
O rapaz de dread apenas lamentou que duas garotas tão bonitas fossem tão burguesas, além de não conhecerem o mundo Verdadeiro - como ele conhecia, obviamente.
Já a moça com um vestido "indiano" reparou nas meninas que a olhavam como pretexto pra relembrar sua superioridade espiritual em relação à maioria das pessoas, que só se atentavam a questões materiais.
E o senhor que as observava? Bem, era um escritor, cujo programa predileto era observar as bobagens que as pessoas faziam no shopping. E a Ignorância daquelas garotas fez ele ganhar o dia, pois conseguira um assunto que daria um belo conto.
E assim, o escritor saiu dali como um rei, com a certeza de estar acima de todas aquelas pessoas que têm a mania de se acharem... superiores às demais...
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