terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cartas Inacabadas

Ilustração: Joana Fraga/Satine Black
Baseado no texto "Cartas Inacabadas", por Thiago Oshiro

(Clique para ampliar)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Grande Amor

(Hannah Abram)

Nunca deixarei de amar como te amei um dia
E a mesma água nunca é eternamente quente, ela esfria
Por melhor que eu seja, por mais que eu esqueça,
Tudo muda, nada é nada, nesse mundo tão mutante

Alegria é esquecer por um instante
Que o tempo corre
E o que me socorre é estar ao teu lado
O que faz todos meus sentimentos misturados
Crescerem do meu jeito, ao teu agrado

Que aquela simples palavra que eu mencionei um dia
sirva de lição a todos, e mostre o que meu coração podia
E nesta ocasião que me encontro
Jogo à mesa todos os pontos
Trago a vocês os benefícios do amor

E com a graça e com a dedicação que vos digo
Que mesmo com todos os defeitos que me traz
Eu te aceito, como nunca, e jamais
Irei deixar-te, abandonar-te, estarás sempre comigo
Eu prometo


Essa poesia foi feita como um presente de aniversário de casamento em 2009 para meus avós, hoje falecidos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Mundo pelos olhos de alguém que queria poder quebrar copos.

De vez em quando, eu me surpreendo com umas vontades estranhas. Tipo me jogar numa escada e descer rolando. Ou aquele desejo ~quase~ incontrolável que tenho de jogar copos de vidro no chão. Antes, eu não sabia de onde esse tipo de vontade vinha - cheguei até a cogitar minha própria insanidade, mas recentemente tive uma epifania - um momento de ideias iluminadas que deixou claro o meu ponto de vista sobre a Vida, o Universo e  Tudo Mais. Eu finalmente descobri um dos grandes motivos para estar insatisfeita com a Realidade.

Pra começar, a carência de efeitos visuais impactantes - veja bem, os gráficos da vida são ótimos, temos diversas paisagens e poucas coisas são tão belas quanto a luz do Sol sendo refletida no oceano numa colorida manhã de verão. No entanto, o cotidiano não explora a diversidade de cores e luzes disponíveis no Universo! É frustrante descer uma escada imaginando que vários cacos de vidro estão voando à sua volta, refletindo e refratando a luz, para depois abrir os olhos e ver só... PAREDES BRANCAS! Nada contra quem gosta do minimalismo e da sua moda all-white na pegada Apple - só que eu enjoei.

Onde estão as bolhas de sabão nos momentos felizes e/ou românticos? Cadê as flores desabrochando e as pétalas de rosas voando em volta das pessoas extremamente bonitas? Cadê os cabelos esvoaçantes dos comerciais de shampoo e as menininhas de vestidinhos floridos com fitas no cabelo e sentadas em balanços aproveitando uma brisa primaveril? Sangue jorrando em momentos tensos também é uma boa...

E não é só a falta de efeitos visuais que me incomoda. As trilhas sonoras inconvenientes desse mundo, nossa! Você está passando por um momento dramático da sua vida e seu vizinho está cantando Michel Teló no chuveiro. Você alcança algo que quer muito e não tem nenhuma música estimulante ao fundo que exale a sensação de *achievement unlocked*. Você acorda numa manhã de segunda e o mundo não transmite pra você as vibrações de *new quest ahead*.

O que nos resta então? A mim, só a minha imaginação - não sei você, mas pra mim drogas não são uma opção. Então eu me enterro dentro da minha própria cabeça, no meu mundinho de purpurina, e vivo a vida como se ela fosse essa Coca-Cola toda que eu queria que ela fosse (apesar de não gostar muito de Coca-Cola como muitos, ainda acho uma expressão idiomática divertida e válida).

E ninguém pode me culpar por gostar de glitter. Existe algo mais bonito que a luz sendo repetidamente refletida e refratada em pequenos pedaços cintilantes e coloridos de algo que te lembra fadas e unicórnios e açúcar? É, nada.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Quando ele voltou pra casa...

Ele chegou em casa, fazia um bom tempo que eu não o via. O cabelo cortado e a barba feita foram as primeiras coisas nas quais reparei, parecia e parece mais magro também. Vestia roupas simples, uma camisa azul escura e uma calça de moletom preta, mais uma daquelas roupas que a gente compartilha e nem percebe. Não deu uma hora e ele começou com suas brincadeiras, ria da nossa cara quando perguntávamos se estava bem, e quando perguntávamos se precisava de algo fazia cara de dor, colocava a lingua pra fora e começava a falar embolado, como se estivesse tendo um troço. Escondeu as cicatrizes na perna e no peito pro dias, porque sabe o quanto eu tenho, como ele, problemas com cortes.
Poucos dias depois começou a responder que queria comer um X-Tudo com bacon dobrado, ou quem sabe uma pizza quatro queijos. Comeu doritos logo na primeira semana - pegou o pacote, olhou pra mim com um sorriso que parecia mais um menino, e comeu feliz da vida, o seu único doritos. Depois bicou refrigerante de mim, e do meu irmão menor também, sempre com a mesma cara safada.
A princípio, eu fiquei curioso... Não tive vontade nenhuma de repreende-lo, apesar de que veio na minha cabeça - "Porra, esse cara não se cuida!". Entretanto as brigas que meu irmão aprontava, não sei se ajudam. Acho que não. Todo mundo acha que "quase morrer", ensina muito a viver, que tudo muda depois de uma experiência dessas. Não, não muda tanto.

A vida não vale tanto. Não vale por si só. O preço de todas as proibições é alto demais somente para a continuidade da existência - não se pode pagar a vida, compensa-la, "viver melhor", apenas se vive e ponto, independente se "quase morremos" ou não...

Prefiro vê-lo sorrindo, demonstrando seus pontos de vistas, sua cores e mundos, à sua maneira, do que triste por ver que não o entendemos. Que o achamos um cabeça dura, que não presta atenção ao que dizemos e que não se cuida direito. Que somos incapazes de ouvir o senso de responsabilidade para com seus alunos, sua força de vontade de continuar em frente até o ano letivo acabar, mesmo depois do coração e do pulmão já estarem a muito reclamando.

"Japonês demais", eu provavelmente diria, ou disse.

É um cabeça dura mesmo e não ouve nem a nada. Mas passei a admirar muito o cuidado com que cultiva aquilo que tem a dizer, o que ele diria ao mundo, o que diz, o tempo todo. Por mais que consiga me compreender diferente, acho bonito o jeito como se expressa, bonito por si só, bonito por ser expressão dele, por ter a alma dele. É como se ele fosse uma música, e eu conseguisse ouvir, depois de muito tempo, um pouco de seus sons... O que ele diria ao mundo.

E a tranquilidade dele, a alegria dele, é mais importante do que sua saúde. Com isso ele se arranja, ele se cuida, mesmo que faça isso de uma maneira muito peculiar.

Não precisa de um conselho, precisa de um abraço.

E só...


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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Observares

GS


Maquiagem, lápis de olho, salto alto. Uma de vestido vermelho, um pouco cima do joelho; a outra, com uma mini-saia, combinando com a blusa clara. Assim vestidas, e juntas, as duas "migas" foram passear no shopping. Olharam algumas vitrines, cada uma comprou um frozen yogurt - com menos de 100 calorias, é claro, para não prejudicar todo o esforço da malhação semanal - e então ambas partiram para seu programa predileto no shopping: sentar num local da praça de alimentação, do qual podiam observar, como espectadoras privilegiadas, as mais diversas gentes passarem, e julgar se estas estavam bem-vestidas ou não...

- Essa aí tá bem brega, né, miga? - diz uma das moças

- É, e o vestido dela saiu de linha na última primavera... - replica a outra

- E esse rapaz aí? Muito "assinzinho"...

- Verdade. Tipo assim, falta estilo próprio. Uma camisa xadrez por cima da roupa e um sapatênis ficariam style.

E assim foram passando pessoas, pessoas e mais pessoas... Algumas, obviamente, prestaram atenção nas garotas: um bombadinho, uma moça vestida à moda evangélica, um alternativo de dread, uma jovem com um vestidinho do estilo indiano. Mas um senhor em especial chamou sobremaneira a atenção das moçoilas: ele usava um chapéu estranho, tomava uma xícara de alguma bebida e observava as pessoas, parando casualmente para fazer anotações num caderninho que apoiava na mesa em que estava sentado. Nos primeiros momentos, as jovens o julgaram como apenas mais uma das tantas figuras ridículas existentes no recinto; mas depois ele começou a voltar os olhos com bastante frequência para elas, esboçando um leve sorriso nos lábios umas duas ou três vezes, enquanto fazia mais anotações. Estava relativamente próximo delas, e bem poderia estar escutando-as; e isso as assustou. Teria ele ouvido algo sobre elas? Os nomes? Talvez uma referência sobre onde moravam! E se fosse um tarado? Estaria anotando algo a respeito delas?

Na dúvida, as moças saíram daquele shopping, que estava cada vez pior frequentado. De fato, não era mais um lugar para pessoas de família, como era o caso delas. A despeito do susto, todavia, elas saíram satisfeitas. Quantas pessoas tinham parado para admirá-las, reconhecendo assim sua beleza e elegância! Assim, saíram dali como rainhas.

Mas poderiam elas imaginar o que pensavam aqueles que prestaram atenção nelas? Jamais; mas pelo menos eu - narrador onisciente, acima de tudo e de todos - posso, e desejo, compartilhar com você, mísero leitor, tais informações.

Primeiramente, o bombado. Que, ao se sentir observado, olhou com vaidade para as garotas e pensou, empertigando-se: "as mina pira nos meus muques".

Depois, a crente, que olhou de cima a baixo os trajes mundanos daquelas garotas, desejando que Jesus tocasse o coração daquela gente.

O rapaz de dread apenas lamentou que duas garotas tão bonitas fossem tão burguesas, além de não conhecerem o mundo Verdadeiro - como ele conhecia, obviamente.

Já a moça com um vestido "indiano" reparou nas meninas que a olhavam como pretexto pra relembrar sua superioridade espiritual em relação à maioria das pessoas, que só se atentavam a questões materiais.

E o senhor que as observava? Bem, era um escritor, cujo programa predileto era observar as bobagens que as pessoas faziam no shopping. E a Ignorância daquelas garotas fez ele ganhar o dia, pois conseguira um assunto que daria um belo conto.

E assim, o escritor saiu dali como um rei, com a certeza de estar acima de todas aquelas pessoas que têm a mania de se acharem... superiores às demais...


~//~

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Saudade: "Onde está?"

Talvez eu quisesse não ter idade suficiente para compreender tal sentimento. Talvez eu quisesse não sofrer tanto. Talvez eu quisesse ser capaz de apagar todas as minhas lembranças, mas mesmo que de fato o fizesse, eu ainda seria capaz de sentir saudades...

A vida nos faz viver momentos cruéis e nos obrigam a nos desligar de pessoas que se nos perguntassem, nunca conseguiríamos abrir mão delas. Infelizmente não estamos aptos para da noite para o dia dizer adeus definitivamente. E ,talvez por esse motivo, não consigamos tal feito. Por mais que a vida nos leve a um ponto final, para os que ficam, o ponto final nunca é de fato um final. Digamos que ponhamos um ponto e virgula, ou até um ponto de continuação. A saudade é a explicação mais pertinente para essa tese baseada no meu achismo. Sentimos saudade por que ainda levamos aquele amor com a gente, é como se a pessoa tivesse, na forma mais leve de dizer, fechado os olhos e deixado um pouco dela com a gente e por mais que tentem nos fazer compreender que aquilo foi um final, não foi. Ainda somos capazes de carregá-las dentro dos nossos coraçoes.

Saudade é sentir uma necessidade absurda de dar um abraço sem poder, um dor forte e inexplicável no peito e saber que aquilo não tem patologia, é querer dar um simples telefonema para um número que não mais existe, é querer rir com alguém que não pode mais, é querer contar do seu dia, dos seus planos, sabendo que tristemente isso se tornou irreal. Saudade é querer saber do que não existe, é sentir cheiros, ouvir palavras e tudo isso trazer lembranças que fazem crescer um nó enorme na garganta, saudades é saber que o que se sente não é uma ilha cruel, mas um continente com dimensões que extrapolam o tamanho do globo e que consomem a alma por inteiro. Saudades é não se conformar dizendo que foi o final, mas olhar para os lados sem entender e se repetir inúmeras vezes "onde está?". Sentir saudades é ter raiva por saber que seu coração não teve capacidade de se despedir e se sentir pequeno por isso. E depois disso refletir e entender por que que não existiu alguém que pôde de fato definir com exatidão tão triste e urgente sentimento.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Efeito borboleta

Efeito borboleta

G.S.

Já pensou como seria o que hoje é

se o que foi não fosse?



Embora não exista "se" na(s) história(s),

infinitas possibilidades existem.

É bem verdade que algo jamais seria:

o que você desejou que tivesse sido,

pois nunca algo foi nem será como imaginamos.



Mas essa exceção não destrói a infinitude de veredas da vida,

pois até a tão "exata" Matemática comprova:

infinito menos um é ainda infinito.