segunda-feira, 7 de maio de 2012

O TEMPO PAROU

Parece que o tempo parou. O coração passa a doer. A mente congela o presente e começa a passar filmes que antes tinham teias pelo desuso. Agora não... Ele está novo e é usado rotineiramente. E aquele mesmo filme que não causava reação faz com que um oceano escorra defeituosamente. Agora tudo é defeito... Defeito do mar, defeito da mente, defeito do coração, defeito da vida. É uma crueldade, talvez se possa pensar assim, é uma crueldade ter que lidar com o inexistênte. Uma crueldade ter que se tornar capaz de lidar com a dor e a perda. É uma crueldade ter que sentir um vazio imenso. É uma crueldade ter uma rotina em meio de mares. A mente congela e depois retrocede. Parece então que tudo está contra os seus sentimentos. Parece também que o mundo resolveu girar de uma forma em que você sempre vai andar num outro sentido. O coração não para de doer. A sua dor parece tomar dimensões continentais. Você não pode mais ter. Você não pode ter. Você não mais vai ter. Os filmes continuam. Por mais que você tenha os visto por dezenas de vezes, eles parecem prolongar cada vez mais e sempre trazerem cenas inéditas, mal revisadas e difíceis. Difíceis talvez pelo seu teor de delicadeza e de dor. Dor que só tende a aumentar e aumenta tanto que você já não entende mais nada. E o nada é tanto... E agora tudo que você queria é aquilo que você não pode. Triste. Desconfortavel. Doloroso. Você respira profundamente e se acalma. Já está com os olhos vermelhos, os braços cruzados e os lábios pressionados. Não, esse último não é conformidade. Você simplesmente aceita por que não existe uma segunda opção, uma outra alternativa, um outro caminho. Dai então, extremamente cansado você se deita na cama com os cabelos molhados em cima do travesseiro, coisa que normalmente você não faria. Você fecha os olhos bem devagar, delicadamente, pedindo por tudo que surgisse algum pensamento menos triste que lhe viesse a mente. As ondas do oceano vão se quebrando cada vez mais lentamente, a respiração vai ficando menos ofegante e o frio toma conta do seu corpo. Você dorme como num passe de mágica. Parece até uma brincadeira de mal gosto, a pouco seu coração queria parar e agora você já pega no sono com facilidade. Essa brincadeira era de fato de mal gosto. Você sonha com a sua perda, você sonha com os seus filmes, você sonha com aquilo que por muito tempo te fez sorrir. E inconscientemente você sorri. E com ainda um sorriso no rosto, mesmo que singelo, você leva sua mão no peito. O coração ainda dói. A mente congela. Você continua a assistir os mesmos filmes. Um novo oceano passa fazendo uma nova rota e parece que o tempo parou.

Hannah Azu (Abram)

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Talvez o tempo realmente pare, os rios tomem seu curso reverso... Mas nunca deverá parar de sonhar, de ver e rever esses malditos, porém maravilhosos filmes, as lágrimas se transformarão em sorrisos e a dor em nostalgia... O texto está lindo, de fato, me tocou... :)

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